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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Ela corria... Seus pés batiam no asfalto pouco mais devagar que seu coração. Ela sentia o impacto no joelho, aquele músculo desgastado aguentando todo seu peso cada vez que levava uma perna ao chão. A dor vinha por vários lados, em fisgadas. Mas ela não parou. Não pararia. Corria sem objetivo numa rua vazia, em pleno domingo de feriado. Corria pensando que, se mantesse seu corpo trabalhando e sua mente concentrada na dor, esqueceria de tudo. Mas estava estava mentindo para si mesma, e sabia disso. Só tinha medo de admitir. Se admitisse, veria que é igual a eles, os outros. Que não passa de mais uma formiga faminta e sem escrúpulos. Pelo desejo de não ser apensa mais uma, continuava correndo. De alguma forma, procurava fugir de si mesma. Fugir de quem ela poderia ser. Conseguiu fazer isso durante toda sua vida, por quê não um dia a mais? Era extremamente fácil mentir para os outros, e, assim, acreditava em suas próprias mentiras. Agora ela já não sabia distingüir as duas pessoas. Aquela linha tênue estava sendo apagada por ela mesma. Se não a achasse, poderia ter que terminar sua vida entre dúvidas, em confusões de verdades e mentiras. Então, nem ela poderia confiar em si mesma. A noite caía, já não sabia há quanto tempo estava na rua. Fechou os olhos, mas uma imagem de uma outra versão dela apareceu. Uma versão hipócrita e egoísta. Nesse momento, decidiu parar. Talvez essa fosse a verdade. talvez ela sempre tenha sido alguém que só se importa com sua vida. Talvez ela tivesse um ideal, alguém que gostaria de ser, e reinventou-se. Talvez tivesse voltado a ser o que realmente é. E, resignada, aceitou. Conformou-se com a idéia de que, como qualquer ser humano, não evoluiria. Era egoísta, hipócrita e desleal. Mas, acima de tudo, era covarde. Apenas mais uma formiga.

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