Ele estava entediado há um tempo. Já havia cantado todas as músicas que sabia, já havia relembrado todas as vezes em que deu um sorriso forçado e já havia contado quantas gotas de orvalho são necessárias para encher um copo de requeijão. Já havia até mesmo arrumado seu armário, já que isso é coisa de quem não tem o que fazer. Encontrou de tudo: roupas antigas que esperavam pela dieta para voltarem a viver, cadernos escritos e amarelados pelo tempo no melhor estilo naftalina e até uma coleção de potinhos de purpurina que ele não fazia a menor idéia de onde tinham surgido.Foi quando encontrou o seu velho saquinho de bolas de gude. Aquilo lhe trouxe uma felicidade imensa. Não é sempre que encontramos coisas tão preciosas - e sem qualquer expectativa. Seus olhos brilharam. Reviveu o tempo atrás daquele, no qual as bolinhas eram super agitadas. Respirou fundo, guardou a sensação dentro dele e, com aquela energia, começou a jogar.Deu o primeiro peteleco. As bolas paralizaram de qualquer jeito. Olhou, negou, pensou. Vou encontrar a posição perfeita pós-peteleco para essas bolas. Juntou-as novamente e assim o fez. Peteleco. Hummm, não. Outro peteleco. Hummm, não. Só mais um. Hummm. Hummm. Hummm. Última vez, vai. Peteleco. Foi. As nove bolas se colocaram na disposição mais perfeita do mundo. Ou melhor, do universo.O seu trabalho com as bolas já estava feito. Mas sentia que faltava alguma coisa. A noite já vinha chegando, o dia inteiro passara nessa brincadeira. E como quem tem uma idéia maravilhosa, do tipo acende-lâmpada-na-cabeça, pensou em iluminar aquelas bolas. A noite chegava e era preciso deixá-las confortáveis. E se tivessem medo do escuro? Pegou a tal da purpurina que estava no armário - afinal, elas têm que ter um objetivo maior na história, caso contrário, seriam purpurinas inúteis - e pouco a pouco polvilhou as nove bolas de gude com a purpurina. As bolas se iluminaram um pouco, com o restante de luz do dia que ainda refletia algo.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
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