Acordava do sono profundo. Profundo, intenso, vivo, vivido.... Vivia entre cantos, aos prantos, entre pratas e cinzas. Cafés... Bebidas... Comia pouco. Quase nada. Quase nada se transformara nos dias que passavam. Passavam como horas perdidas das agonias mais delirantes... Sonho. Sempre sonhara. Voava em bandos, sozinho, em lugares que nunca fora. Foi, até certo ponto, de lá nunca mais voltou. Acordava do sono profundo. Duas e trinta piscava no rádio-relógio. Duas e trinta. Que dia era hoje? Que dia? Dia? Acordava do sono profundo com os olhos mareados da noite anterior. Noite? Na língua o gosto azedo do excesso de álcool e café. Escondia-se de si mesmo. Envergonhava-se ao se ver no espelho. Refletido, do outro lado, o que ele mais odiara. Ele mesmo. Acordava do sono profundo. Nos sonhos mais delirantes, ele a via bela, a dançar pelas avenidas cheias de gente, flor vermelha na orelha, a desafiar os olhares confusos de quem passava. Passavam as horas, os dias, as datas amareladas dos calendários gregos, romanos, judeus.... Passavam décadas, milênios, toda a existência da Terra olhando aqueles olhos envidraçados de perfeita cor, seu corpo bailando pelos ares, ventos em seus cabelos, a flor enfeitando seu rosto angelical. Nestes dias, acordava como quem não dormiu. Acordava recheado de melancolia e saudade. Saudade do futuro. O futuro lhe trazia retrocesso. Não sabia explicar, mas vivia em labirintos tortos. Andava em círculos por caminhos já trilhados. O futuro lhe guardava o passado. Passado, este, que nunca vivera. Viu, de relance, nos sonhos, ou nos livros, ou no cinema, ou em música, ou nos jornais, ou no teatro, ou na própria imaginação... Viu seu futuro impresso em papiros. Folhas amarelas desfeitas pela ação do tempo. O passado mirava o futuro. Pelo decorrer dos séculos passados, observou tudo que viveria depois da eternidade. Os dias eram contados pelas linhas que adornavam suas mãos.
Saudade sufocava sua vista.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Postado por matt. às 14:57
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